sexta-feira, 24 de setembro de 2010

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Na casa dos avós a inquietação era visível. Por três vezes vó Nina perguntou o motivo de tanta aflição. E a resposta era sempre a mesma:

- Não é nada não vó. Não precisa se preocupar.

Mas dona Nina sabia que a menina estava diferente. Talvez devesse alertar sua filha para prestar mais atenção na filha. Seriam as drogas? Não, no fundo ela tinha quase certeza que não. Sabia que sua netinha era muito esperta, além do mais diálogo era algo completamente aberto em sua casa. Havia educado seus filhos com muita conversa (e algumas palmadas, claro) e sabia que eles tinham transmitido aos netos o primor da educação.
Enquanto isso a imaginação da pré-adolescente era um turbilhão de idéias. Como pedir esse presente para os pais? Deveria ela avisar que seria a última infantilidade? Qual seria a reação deles? Quais as perguntas prováveis de serem feitas por todos? Dúvidas, dúvidas, dúvidas. Nenhuma resposta as questões; só o sentimento da posse do brinquedo. E enquanto questionava já imaginava-se a segurar Lina no colo, de forma suava, bem maternal. Ela seria sua filha eternamente e decidira passar até para sua criança, caso um dia tivesse uma.
As horas não passavam. Ainda era cedo para voltar pra casa, os pais ainda não estariam em casa. Trabalhavam todos os dias até o pôr-do-sol. Em sua cabeça repassava o trajeto até a casa no outro quarteirão. Estaria a loja ainda aberta quando voltasse? Se estivesse nada custaria passar lá e dar mais uma conferida na boneca.
Sentada no seu sofá preferido, assistindo a desenhos na televisão era só pensamentos. Nem as superpoderosas (seu desenho favorito) conseguiam acalma-la. Leu um livro, Poliana- seu predileto- e cogitou a começar um jogo do contente. Em sua impaciência infantil a imagem da boneca ia e vinha e ela já pensava em que roupas compraria. Seria sua filha até uma verdadeira. A hora do lanche se aproxima e logo já estaria atravessando a rua novamente.

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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Infanto-juvenil

A menina ganhou a boneca. Não uma qualquer, mas aquela que ela tanto havia pedido. Seu novo mimo tinha pele clara, cabelo ondulado tão escuro quanto os olhos, negros pontos a fitar o vazio. Era seu último brinquedo, ela decidira meses antes quando iniciou o trabalho de procura em busca do derradeiro capricho infantil. Reconheceu o alvo dias antes indo para a casa dos avós. Ela sabia que muito provavelmente não chegaria a brincar com o novo passatempo, ainda assim merecia seu último presente. Suas amigas já não tinham nada mais que lembrasse a infância, elas diziam que eram “coisas de criança”. O fato desconhecido era que todas ainda brincavam às escondidas no segredo do quarto; um sentimento de culpa da maturidade adquirida.

Naquele dia ensolarado de primavera ela atravessou a rua em busca da casa dos avós. Na mão um caderno de estudos que havia ganhado semanas antes, no olhar a fascinação da criança-estátua tão perfeita. Entrou na loja ainda a fita-la, o vendedor perguntou:

- Posso ajudar pequena?

Pequena? Aquela palavra a feriu. Será que ele não havia notado seu completo crescimento? Pequena! Quer dizer que ela ainda tinha o direito do brinquedo sem culpa. Felicidade.

O vendedor apático permanece observando o encanto da menina. Vendo que sobrava na cena, decidiu se retirar com a usual frase de que mesmo ausente poderia ajudar:

- Se precisar de algo estou logo ali.

Ela precisava, nada que no momento pudesse ser ajudado. Pegou o brinquedo com as mão incertas, trêmulas de emoção e decidiu ali seu nome, Lina, lembrava linda, combinava. Em seu colo ninava e acariciava aquele ser estático. Abraçou, beijou e jurou por um instante sentir o calor do objeto em seus braços. Tão pequenina e indefesa pensava enquanto instintivamente examinava cada parte da boneca, como se estivesse cuidando da saúde dela.

Tornou a guarda-la, não no lugar que havia tirado. Era medrosa, temia que outra criança a levasse; era única e sua. O pedido há tempos já estava formulado para seus pais. Escondeu-a atrás de todas as outras comuns, nenhuma parte do corpo a vista, uma prisão.

Saiu da loja mais feliz e segura com a culpa de ainda ser pequena já completamente esquecida. Assumiria sua infância até seu aniversário, faltava um mês.

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Explicação

Os posts seguintes são de um conto que comecei a escrever e dividi por já apresentar um pouco mais de texto do que seria interessante colocar aqui. Acredito que postar partes dele a cada tempo ajudará um melhor compreendimento da história.

Espero que leiam!

domingo, 12 de setembro de 2010

Receita

Pensei, escrevi e apaguei. Não gostei do que estava na tela do computador; grande novidade, nunca aprovava. Recomecei o projeto, mas onde estavam as ideias? Teoricamente na cabeça que não parava de pensar que tudo daria uma história, mas na hora de fazer faltavam palavras. Na verdade sobrava somente o espaço para ser preenchido com as letras. Nova "luz", mais uma tentativa. Não adiantava, aquele não era dia de criação, nem todos eram. Largo o computador, lápis, borracha e papel a minha frente quem sabe não seria mais produtivo. Risca e apaga, escreve e rabisca por cima nada saia. Como fazer um texto sem contexto? Penso em virar dadaísta, sortear palavras no dicionário. Tentativa. Uma narrativa com mais sentido que as anteriores, vale anotar. E subitamente o pensamento de noticiar aquilo que não conseguia virar noticia. Enquanto as linhas ganham formas mais assuntos surgem e a fome aperta. Na falta do alimento uma nova receita, a do fazer escrita.

Ingredientes principais:
-Um local para escrever (preferência do escritor)
-Assunto que interessa a alguém
-Conhecimento do que vai noticiar
-Tempo indeterminado
-Paciência
-Palavras
-Pensamento
-Perseverança

Modo de fazer:
Em uma tigela junte o local para escrever com o assunto, conhecimento e as palavras. Misture tudo até virar uma massa de texto, não necessariamente com sentido e coloque para assar. Na panela coloque o tempo, a paciencia, o pensamento e a perseverança e misture até formar o recheio. O produto final estará pronto quando a consistência estiver a gosto de quem preparou. É uma receita que saboreamos de acordo com o paladar do cozinheiro.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Rotatividade

Felicidade resume-se em viver,
viver é o cotidiano.
Cotidiano nos lembra rotina
que culmina no estresse.
Estresse resulta em tratamento
que nos leva a paz, descanso e harmonia
nos trazem de volta a vida e, consequentemente, felicidade.

sábado, 4 de setembro de 2010

fora da rotina

são as surpresas que movem a vida; boas ou ruins. Surpresa!