quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

um cheiro de cravo e canela

Jorge Amado é considerado um dos clássicos e épicos escritores nacionais. Esse ano é o centenário do advogado e jornalista e, por isso, resolvi conferir o estilo literário dele. Como primeiro romance escolhi Gabriela cravo e canela. Uma história gostosinha, "mamão com açúcar", para encantar jovens e adultos. Uma mistura de romance, história e por que não um certo drama? São tantos livros e ainda assim escolhi o dessa "menina-mulher" como o inicial ao invés de seu primeiro, por exemplo, que foi O País do carnaval.
Em linhas abaixo procurei resumir o mínimo que Gabriela retatou nas 358 páginas da edição que li. Não mencionei nenhum outro personagem, salvo a protagonista e Nacib; não precisava de histórias a parte para aumentar o já extenso resumo do livro. Sugiro a boa e velha leitura para conhecimento e desfrute de um romance tão pequeno com tantas histórias e permeios.

Gabriela era uma mulata que viajou até Ilhéus em busca de uma nova vida. A história se passa na terra conhecida pelo cacau, a fruta que enriqueceu a pequena vila e levou o desenvolvimento e estrangeiros em um tempo em que aos homens e coronéis era quase uma obrigação ter uma amante, enquanto as mulheres eram punidas com pena de morte em caso de traição.
Nacib era um comerciante solteiro de um dos conhecidos bares locais, o Vesúvio, e com a partida de sua cozinheira foi obrigado a encontrar outra. Eis o encontro entre Gabriela ("Bié" para o patrão) e "Seu Nacib". A beleza e encanto da mulata, que tinha como cheiro uma mistura de cravo e canela, seduziram todos os homens da região, e até as senhoras admitiam a formosura da jovem, que era alegre e solta na vida.
Com receio de perder a cozinheira e a amante de todos os dias, Nacib vence seu próprio preconceito e propõe casamento à Gabriela. Erro bobo. Antes houvesse escutado Josué, que preveniu que certas rosas são vivas devido a liberdade, quando presas murcham. Descrevia "Bié" sem saber. O compromisso foi aceito por ela por gratidão e por gostar do patrão de uma forma que jamais tinha gostado de alguém. As obrigações de uma mulher casada, de alto nível, contudo, eram acima do que ela podia suportar. Isso a levou a procurar Tonico, de uma forma que a levaria a morte naqueles tempos em Ilhéus. A civilidade falou mais alto e Nacib ao invés de matar expulsou Gabriela de sua casa, do bar e de sua vida; anulou o casamento e procurou esquecê-la.
Ela, por sua vez, magoada, recusou todos os convites dos coronéis e doutores da região. Ainda pensava no "moço bonito" do "Seu Nacib". E como nada melhor que o tempo para curar feridas antigas não preciso nem dizer que após voltas e reviravoltas Gabriela volta como cozinheira do comerciante e como não poderia voltar para sua vida? Quase um conto de fadas.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Uma história com história. "Moça com brinco de pérola"

Ganhei esse livro de uma pessoa que contribui massivamente para meu crescimento profissional e intelectual. Foi uma escolha que disse-me ter sido por aparências e isso levou-me a um livro diferente. Não apresentarei um livro como outros que já descrevi aqui com romance ou suspense em excesso e claro durante todo enredo. Classificaria essa história como um drama em primeiro ponto, seguida de romance, história e de certa forma um perfil. São 239 páginas de incertezas porque em cada capítulo uma emoção predomina, mas o livro não é de chorar como o anterior.
Imagem aproximada do quadro
"Moça com brinco de pérola"

"Moça com brinco de pérola" é o título. Lembrou-me um quadro, uma pintura desde o início e fez sentido por conter partes históricas ligadas a pintura de Johanes Vermeer. A autora, Tracy Chevalier, conta a história de Griet, uma menina humilde que em meio a pobreza em que vivia com a família, e a súbita perda de visão de seu pai, é obrigada a trabalha como criada na casa de um pintor. O ofício é árduo e cansativo para uma jovem que ainda nem havia entrado na fase adulta. Em uma cidade da Holanda do século XVII com grande distinção entre nobreza e pobreza e católicos e protestantes, Griet descobre os ares e ofício das artes e se encanta pelas formas, cores e tonalidades.
Durante o enredo o foco principal é a jovem - sua religião e o interesse pela arte - e nunca algo que não a ligue estará presente. Toda a trama desenvolve-se com ela e a medida que os meses e anos passam. É realmente como uma obra de arte - bem descritiva, de forma que cada mínima mudança ganhe uma descrição e cada quadro assuma vida própria ao ser lido. O ápice e título podem ser percebidos a partir de muito antes do fim, o que torna o livro bem previsível, porém não faz diminuir o interesse pela leitura, apesar do final ser o esperado. O título também é um resgate histórico, uma vez que Vermeer realmente pintou um quadro com esse título e descrições. A história por isso torna-se uma mistura de ficção com realidade.

Tracy Chevalier: escritora norte-americana de Washington nascida em 1962. Desde jovem manifestou o desejo de ser escritora e ainda na escola compunha alguns contos. Ao obter o diploma em Estudos Ingleses dedicou o tempo livre à escrita e, assim como muitos jovens nessa fase da vida, realizou uma viagem para a Europa, mais precisamente para a Inglaterra, onde começou a trabalhar. Publicou seu primeiro romance (The virgen blue) em 1997 e foi bem recebida pela crítica e enquanto aguardava seu primeiro filho escreveu Moça com brinco de pérola (Girl with a pearl earring), de 1999. Em 2001 surgiu Falling Angels, que reafirmou seu interesse em misturar romance com história.