domingo, 16 de fevereiro de 2014

A encantadora Liesel Meminger




A vida de Liesel Meminger ganha sentido a cada página percorrida na obra de 494 páginas. Abandonada pela mãe em um lar estranho com um pai afetuoso e uma mãe firme, a menina desde cedo aprendeu a sobreviver. Viu seu irmão mais novo morrer, no cemitério roubou seu primeiro livro e o carregou consigo para um mundo novo. Sem saber ler ou escrever, aprendeu aos poucos a construir palavras. A paciência da figura paterna a ensinou cada articulação, e logo ela já não era mais analfabeta.
Em um tempo em que Hitler era exaltado na Alemanha, Liesel precisou canalizar todas as suas frustrações, esperanças e pesadelos na leitura, sua válvula de escape. Não bastasse isso ainda conhece Max, um judeu abrigado na pequena casa em que vivia, e figura que acabou se tornando um grande amigo com o passar dos anos. Os primeiros roubos, decepções, alegrias e amor ficaram registrados numa ficção com um grande toque de realidade.
São capítulos nem sempre muito claros. Não aconselho a um inexperiente e pesaroso leitor a se aventurar pelas páginas desse drama, pelo contrário. Recomendo a obra, com louvor, porém somente àqueles com alguma destreza literária - uma espécie de malícia - e que possam compreender os sentimentos de uma jovem adolescente.
"A menina que roubava livros" não é uma história que marcou uma legião, contudo é uma leitura que certamente inspira séria reflexão a todos que a leem. Isso porque trabalhar a questão nazista é sempre algo extremamente delicado, e se não for bem feito pode ser o ingrediente para o erro. Nessa mistura entre imaginário e realidade, entretanto, o autor soube contrabalancear os efeitos de ambos; um bestseller no melhor efeito das palavras.
A capa da publicação de reveladora não tem nada. Lembro de minha própria estranheza ao ganhar o livro, parecia que ele não me passaria nada. Fonte serifada (confesso que as vezes a encaro com um extremo pré-conceito nas capas), um branco que prendia o olhar, árvore preta, pessoa preta e uma única com em dois elementos: o vermelho, presente tanto na palavra "livro" (em destaque no título), quanto no guarda-chuva. Um [bom] mistério até hoje devido aos inúmeros significados que agora me representam.
Por isso, não um mero acaso levou os capítulos do livro a serem cenas de um filme de mesmo nome. A história de Liesel foi contada quase que de maneira magistral na direção de Brian Percival em pouco mais de 2h de duração. Uma boa pedida para os fãs menos entusiasmados com as palavras, um melhor efeito do drama.
Preparem os lenços e escolham a sua preferência. A minha continuará sendo a literatura.



Markus Zusak é o autor responsável por "A menina que roubava livros". Apesar da mistura entre seus pais (sua mãe é alemã e seu pai austríaco), Zusak é australiano e o mais novo entre quatro irmãos. Escreveu cinco livros, incluindo o bestseller aqui mencionado que alcançou a tradução para mais de 30 idiomas. Em entrevistas ele conta que optou pelo enredo por ter crescido com histórias sobre a Alemanha nazista e todo domínio que Hitler imperou no país e no mundo.

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