terça-feira, 12 de outubro de 2010

[5] - Final

...

Arrastado o dia que tinha tudo para ser grande chegou, mas junto com ele uma tristeza inconsolável, imbatível. A pobre menina só conseguia lembrar de Lina. Onde será que ela estaria? Seria feliz? Paparicada? Dúvidas surgiram assim como quando não sabia de que maneira pediria o presente aos pais. Lembrou daquele dia feliz, em que a imagem da boneca a fazia sorrir sem ter com o que; bastava lembrar-se daquele rosto perfeito digno de modelo.
Logo os convidados começaram a chegar. Timidamente. A festa começava às 18h e já havia passado da hora sem que a aniversariante estivesse presente. Sua mãe foi chamá-la no quarto e a encontrou chorando. Poucas vezes ela havia estado assim, era uma criança forte; até demais às vezes. Conversou com a filha e explicou que nem sempre as coisas aconteciam da maneira planejada. A vida era “uma caixinha de surpresas”.
O diálogo surtiu efeito e a menina desceu acompanhada da mãe para curtir sua festinha. Ao contrário da semana que parecia ter se arrastado, a noite tinha passadas rápidas como as de um velocista. O parabéns chegou e ela sabia que seria a despedida da sua infância e sem o desejo atendido. Em uníssono coro os amigos e familiares entoavam o ‘Parabéns pra você’ e ela sorria e acompanhava nas palmas. Ao término aproximou-se do bolo e antes que pudesse soprar a vela ouviu o Sávio gritar:

- Faz um pedido!

E todos retrucarem:

-É, o pedido.
Ela não acreditava muito nisso, mas entre pedido e realização existia um longo espaço. Fechou os olhos, tomou fôlego e pensou com a máxima força que alguém poderia realizar esta ação. Soprou as velas até as reservas de energia que estavam nela. E quando acabou só pode ouvir seus pais pedindo a palavra.
Os dois afirmavam o quanto ela era especial para eles e todos que a conheciam (seria mesmo?) e disseram que o maior sonho deles era fazê-la feliz. Com um sorriso no rosto e olhos brilhando sua mãe pegou uma caixa escondida embaixo da mesa e a entregou dizendo:

-Filha, sabemos o quanto este presente será importante em sua vida. Espero que possa amar tanto quanto nós te amamos.

Um beijo seguido da tradicional foto marcaram o momento e todos puderam voltar a comer e conversar enquanto esperavam o bolo ser servido. A menina não. Ela foi para um canto afoita e curiosa para descobrir o que tinha naquela embalagem. Rasgou os papéis que a cobriam com uma voracidade de quem está lutando contra o tempo e tal foi sua surpresa ao deparar-se com a boneca que tanto havia pedido. O choro foi inevitável.
Logo ela cresceu, pouco brincou com Lila, porém estaria presente o tempo todo em seu quarto. Veio o primeiro beijo e a informação foi confidenciada ao ser inanimado; o namorado que foi apresentado como se o brinquedo fosse gente; faculdade; trabalho; casamento; e, finalmente, os filhos.
Um dia ao arrumar suas coisas na prateleira sua menina a observava e de repente notou algo sempre presente e nunca reparado: a boneca. Ainda em pose imperial exibia o charme e ternura naqueles olhos negros grandes como bolas de gude. A dona do artefato começou a contar...

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